Disse Jesus:
Se duas pessoas fazem a paz na mesma casa, dirão a uma montanha: “afasta-te” e ela afastar-se-á.
Eis o poder da paz, da unidade!
Que se pode fazer contra um homem tranquilo, unificado?
Que se pode fazer contra duas ou três pessoas bem harmonizadas?
As montanhas, as dificuldades, afastam-se. É como se tivessem o apoio de toda Natureza, do Uno que se manifesta em sua harmonia.
Antes de desejar levar a paz para a casa dos outros, é necessário
começar em sua “casa”, fazer a paz com as partes “inimigas” de si mesmo,
seja o instinto, a emoção ou o intelecto. Enquanto houver divisão em
nós mesmos, não será que os obstáculos que encontramos são a expressão
de nosso próprio caos?
Encontra a paz interior, dizia São Serafim de Sarov, e uma multidão
será salva ao teu lado. Um homem tranquilo, um homem feliz é fonte de
paz e de felicidade para toda a humanidade. O que não fariam dois ou
três?
Para Clemente de Alexandria, “transportar” montanhas significa
nivelar as desigualdades entre os homens, tornar possível o encontro. A
Paz permite que a Unidade de todos os seres se manifeste no momento em
que o temor ou a cobiça erguem montanhas entre eles.
A “fé que transporta montanhas”. Ora o que é a fé senão a Unidade da
inteligência com o coração? A paz realizada entre esses “dois” que,
muitas vezes, se opõem na mesma casa: o discernimento e a afetividade?
A fé é indissociavelmente, um movimento da inteligência para a
Verdade e um ato de confiança. A fé é aderir com todo o seu ser ao que é
reconhecido como verdadeiro e justo.
Essa adesão íntima e total implica
uma grande potência assim como uma grande lucidez: vai além da razão,
mas não contra a razão.
E o que tinha a aparência de montanha revela-se à
luz dessa força clarividente e viva como um simples ninho de toupeira.
Jean-Yves Leloup
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