40 - ORAÇÃO DIANTE DO TEMPO
Senhor Jesus!
Diante do calendário que se renova, deixa que
nos ajoelhemos para implorar-te compaixão.
Tu que eras antes que fôssemos, que nos
tutelastes, em nome do Criador, na noite
insondável das origens, não desvies de nós teu
olhar, para que não venhamos a perder o
adubo do sangue e das lágrimas, oriundos das
civilizações que morreram sob o guante da
violência!...
Determinaste que o Tempo, à feição de ministro
silencioso de tua justiça, nos seguisse todos
os passos...
E, com os séculos, carregamos o pedregulho da
ilusão, dele extraindo o ouro da experiência.
Do berço para o túmulo e do túmulo para o berço,
temos sido senhores e escravos, ricos e
pobres, fidalgos e plebeus.
Entretanto, em todas as posições, temos vivido
em fuga constante da verdade, à caça de
triunfo e dominação para o nosso velho egoísmo.
Na governança, nutríamos a vaidade e
a miséria.
Na subalternidade, alentávamos o desespero e a
insubmissão.
Na fortuna, éramos orgulhosos e inúteis.
Na carência, vivíamos intemperantes e
despeitados.
Administrando, alongávamos o crime.
Obedecendo, atendíamos à vingança.
Resistíamos a todos os teus apelos, em
tenebrosos labirintos de opressão e delinqüência,
quando vieste ensinar-nos o caminho libertador.
Não te limitaste a crer na glória do
Pai Celeste.
Estendeste-Lhe a incomparável
bondade.
Não te circunscreveste à fé que
renova.
Abraçaste o amor que redime.
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Não te detiveste entre os eleitos da virtude.
Comungaste o ambiente das vítimas do mal, para
reconduzi-las ao bem.
Não te ilhaste na oração pura e
simples.
Ofertaste mãos amigas às necessidades alheias.
Não te isolaste, junto à dignidade venerável de
Salomé, a venturosa mãe dos filhos de
Zebedeu.
Acolheste a Madalena, possuída de sete gênios
sombrios.
Não consideraste tão-somente a Bartimeu, o
mendigo cego.
Consagraste generosa atenção a Zaqueu, o rico
necessitado.
Não apenas aconselhaste a fraternidade aos
semelhantes.
Praticaste-a com devotamento e carinho, da
intimidade do lar ao sol meridiano da praça
pública.
Não pregaste a doutrina do perdão e da renúncia
exclusivamente para os outros.
Aceitaste a cruz do escárnio e da morte, com
abnegação e humildade, a fim de que
aprendêssemos a procurar contigo a divina
ressurreição...
Entretanto, ainda hoje, decorridos quase vinte
séculos sobre o teu sacrifício, não temos
senão lágrimas de remorso e arrependimento para
fecundar o Saara de nossos corações...
Em teu nome, discípulos infiéis que temos sido,
espalhamos nuvens de discórdia e crueldade
nos horizontes de toda a Terra! É por isso que
o Tempo nos encontra hoje tão pobres e
desventurados como ontem, por desleais ao teu
Evangelho de Redenção.
Não nos deixeis, contudo, órfãos de tua
bênção...
No oceano encapelado das provações que
merecemos, a tempestade ruge em pavorosos
açoites... Nosso mundo, Senhor, é uma
embarcação que estala aos golpes rijos do vento.
Entre as convulsões da procela que nos arrasta e
o abismo que nos espreita, clamamos por
teu socorro! E confiamos em que te levantarás
luminoso e imaculado sobre a onda móvel e
traiçoeira, aplacando a fúria dos elementos e
exclamando para nós, como outrora disseste
aos discípulos aterrados: – “Homens de pouca fé, porque duvidastes?
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