sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mandela, o homem que não podia chorar

Bono, do U2, escreve sobre Mandela: 'o homem que não podia chorar'


 

O vocalista da banda U2, Bono, lamentou nesta sexta-feira (6) a morte do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela e disse que, quando era um jovem militante, fazia tudo que o líder contra o apartheid dizia.

"Como um militante qualquer, desde adolescente, fazia tudo que o Mandela me dizia para fazer", escreveu Bono para a revista americana "Time".

No texto, que tem o título de "The Man Who Could Not Cry" (em tradução livre, "o homem que não podia chorar"), o cantor lembra a grande influência que Mandela teve em sua vida.


Juda Ngwenya - 25.mai.02/Associated Press
Em foto de maio de 2002, Mandela e Bono, vocalista do U2, posam juntos em Johannesburgo, na África do Sul
Em foto de maio de 2002, Mandela e Bono, vocalista do U2, posam juntos em Johannesburgo, na África do Sul

"Sempre foi uma presença muito forte na minha vida. Penso em 1979 quando nós do U2 fizemos nosso primeiro show contra a África do Sul racista. Ao longo dos anos, nos tornamos amigos. Unimos a batalha contra o racismo àquela contra a Aids e contra a pobreza e a fome. Sem os seus esforços, na década passada teríamos tido 9,7 milhões de doentes com Aids e 2,7 milhões de crianças mortas de fome a mais por ano", destacou Bono.

O cantor falou da capacidade do líder sul-africano de conseguir, com sua "simplicidade e garra", "mudar o curso da história".

Uma vez, Mandela lhe contou que conseguiu uma doação de US$ 20 mil da então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher para sua fundação. "Perguntei a ele: mas como conseguiu? E ele, sorridente, me respondeu: 'Pedi. Nunca terá o que quer se não pedir.'"

O líder do U2 recordou quando soube que Mandela tinha sofrido sérios danos aos olhos durante seu período na prisão, já que havia trabalhado em minas de ouro e o pó obstruiu seus canais lacrimais, impedindo-o de chorar.

"Para todos, a sua firmeza e o seu valor eram tão grandes que com certeza não podia lacrimejar em um momento de insegurança ou de dor. Mas a explicação era muito diferente. Depois, passou por uma intervenção cirúrgica em 1994 que resolveu o problema. A partir daquele dia voltou a chorar. E hoje nós também podemos fazer isso por ele", concluiu Bono.

Da Folha de São Paulo de 6/12/2013

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