Bono, do U2, escreve sobre Mandela: 'o homem que não podia chorar'
O vocalista da banda U2, Bono, lamentou nesta sexta-feira (6) a morte do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela e disse que, quando era um jovem militante, fazia tudo que o líder contra o apartheid dizia.
"Como um militante qualquer, desde adolescente, fazia tudo que o Mandela me dizia para fazer", escreveu Bono para a revista americana "Time".
No texto, que tem o título de "The Man Who Could Not Cry" (em tradução livre, "o homem que não podia chorar"), o cantor lembra a grande influência que Mandela teve em sua vida.
Juda Ngwenya - 25.mai.02/Associated Press | ||
Em foto de maio de 2002, Mandela e Bono, vocalista do U2, posam juntos em Johannesburgo, na África do Sul |
"Sempre foi uma presença muito forte na minha vida. Penso em 1979 quando nós do U2 fizemos nosso primeiro show contra a África do Sul racista. Ao longo dos anos, nos tornamos amigos. Unimos a batalha contra o racismo àquela contra a Aids e contra a pobreza e a fome. Sem os seus esforços, na década passada teríamos tido 9,7 milhões de doentes com Aids e 2,7 milhões de crianças mortas de fome a mais por ano", destacou Bono.
O cantor falou da capacidade do líder sul-africano de conseguir, com sua "simplicidade e garra", "mudar o curso da história".
Uma vez, Mandela lhe contou que conseguiu uma doação de US$ 20 mil da então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher para sua fundação. "Perguntei a ele: mas como conseguiu? E ele, sorridente, me respondeu: 'Pedi. Nunca terá o que quer se não pedir.'"
O líder do U2 recordou quando soube que Mandela tinha sofrido sérios danos aos olhos durante seu período na prisão, já que havia trabalhado em minas de ouro e o pó obstruiu seus canais lacrimais, impedindo-o de chorar.
"Para todos, a sua firmeza e o seu valor eram tão grandes que com certeza não podia lacrimejar em um momento de insegurança ou de dor. Mas a explicação era muito diferente. Depois, passou por uma intervenção cirúrgica em 1994 que resolveu o problema. A partir daquele dia voltou a chorar. E hoje nós também podemos fazer isso por ele", concluiu Bono.
Da Folha de São Paulo de 6/12/2013
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